quinta-feira, 31 de dezembro de 2020


 

Indico aqui doze livros que me fizeram atravessar esse ano estranho com mais fantasia, encantamento e aprendizado:
- Grande mar oceano, Editora Jaguatirica, Romance, Leonardo Almeida Filho;
- A cidade inexistente, 7Letras, Romance, José Rezende Jr.;
- Tudo que morde pede socorro, Patuá, Romance, Cinthia Kriemler;
- Mahatma Gandhi, Martin Claret, Biografia, Huberto Rohden;
- À espera de um milagre, Editora Schwarcz, Romance, Stephen King;
- Dom Pedro II, A história não contada, Leya, Biografia, Paulo Rezzutti;
- O segredo dos seus olhos, Suma de letras, Romance, Eduardo Sacheri;
- Memorial do Convento, Bertrand, Romance, José Saramago;
- Torto Arado, Todavia, Romance, Itamar Vieira Jr.;
- Escravidão, Globo, História, Laurentino Gomes;
- Gabriela, cravo e canela, Companhia das letras, Romance, Jorge Amado;
- Os pilares da terra, Arqueiro, Romance, Ken Follet - único que não está na foto.
Agradeço a todos que prestigiaram o meu romance A mulher que proclamou a República,
Editora Penalux
, que o leram e tiveram o carinho de comentarem comigo as suas impressões. Gratidão!
Desejo que tenhamos um 2021 com mais valorização da ciência, da educação, da amizade, dos livros, com saúde e com vacina para todos. Espero que o negacionismo, a ignorância, a estupidez, a irresponsabilidade e o obscurantismo fiquem em 2020.
Boas leituras em 2021!

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Entrevista no Programa Feijoada Completa da Rádio Câmara

 


Abaixo, link da entrevista feita pelo jornalista Roberto Seabra e divulgada no programa Feijoada Completa, na Rádio Câmara, de Brasília, em 06/11/2020.

https://www.camara.leg.br/radio/programas/705405-casa-das-palavras-a-mulher-que-proclamou-a-republica-bloco-2/


sábado, 31 de outubro de 2020

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

 

Trecho do meu livro A mulher que proclamou a República, Penalux Editora.


— Todas essas Condecorações foram recebidas no Império. Muitas, inclusive, das próprias mãos de Dom Pedro. Veja essa aqui.

E pegou uma belíssima medalha presa numa fita cor de rosa.

— Nossa! O que é essa beleza, generalíssimo?

— Alcides, esta é a Imperial Ordem da Rosa.

— O que ela significa?

— Esta homenagem premiava militares e civis por sua fidelidade ao imperador e por seus relevantes serviços prestados ao Estado. Foi-me concedida pelo próprio Dom Pedro II, em março de 1889.

Peguei aquela medalha maravilhosa que trazia uma estrela branca de seis pontas, unidas por uma guirlanda de rosas. Ao centro, um medalhão redondo trazia as letras P e A, alusivas ao casamento de Dom Pedro I e dona Amélia. Em cima, vinha uma dourada coroa imperial. Fiquei maravilhado com a beleza da medalha e não tive coragem de dizer qualquer palavra.

— Eu nunca recebi uma única homenagem dos republicanos. Nenhuma! Deodoro da Fonseca é um herói do Império do Brasil.

sábado, 18 de julho de 2020

Resenha do romance A mulher que proclamou a República



Uma aprendizagem: Memória e Ficção em A mulher que proclamou a República, de Aguinaldo Tadeu

Alexandra Vieira de Almeida – Escritora e Doutora em Literatura Comparada (UERJ)

No romance magistral de Aguinaldo Tadeu, A mulher que proclamou a República (Penalux, 2020), o narrador de apossa do real, devora suas carnes e realiza, num diálogo dinâmico, o entrecruzamento entre ficção e realidade. Para isso, um elemento serve de ponte entre o real e o ficcional, a memória, que se apresenta como leitimotiv para a narrativa acontecer. Composto por 58 capítulos, a obra se alonga por 325 páginas, em que nela estão inseridas notas no final de alguns capítulos com dados históricos importantes, como localidades (Paço Imperial), nomes de jornais e revistas (Revista Ilustrada), figuras proeminentes, entre outros dados relevantes para a referencialidade do enredo, que se constrói ricamente por camadas contrastantes e paralelismos complexos que só enaltecem a escrita de Aguinaldo. Além desses elementos, encontramos no final uma bibliografia que serviu de fonte de pesquisa para o escritor, revelando seu intenso conhecimento dos fatos. O livro se inicia com uma epígrafe de Machado de Assis, bastante pertinente e fulcral para a construção do romance de Tadeu: “Todos os contrastes estão no homem”. A obra machadiana é um modelo a ser descortinado pelos olhos do autor por ora aqui apresentado, que alia erudição, sabedoria e conhecimento da tradição. 

Quando terminei de ler o romance de Aguinaldo Tadeu, veio-me à mente o livro Isaú e Jacó, de Machado de Assis, com todas as contradições dos irmãos gêmeos Pedro e Paulo, um monarquista conservador e o outro liberal republicano, que amam a mesma mulher Flora, que não soube se encaminhar pela aurora da escolha. Opostos e iguais, os irmãos expõem os conflitos que permeiam os movimentos monarquista e republicano, revelando suas diferenças e semelhanças, como os gêmeos. Logo no início do romance, percebemos o personagem que é o Marechal Deodoro, num misto de tristeza e felicidade ao se lembrar do passado. A obra de Tadeu vai desfiar os fios da memória do primeiro presidente da República, que confessa ao narrador (em primeira pessoa), seu secretário Alcides, suas revelações, dando uma verdadeira aula ao seu empregado, que num processo de aprendizagem, apreende e captura esta memória perdida no tempo. Para além da grandiosidade do Marechal, como figura histórica e militar, temos sua humanidade exposta, com seus desejos, raivas, dever, razão e sentimentos. Uma personagem singular do passado nos salta aos olhos. Apesar de casado com Mariana, Deodoro é apresentado como conquistador, tendo fascínio por uma amante em particular, Adelaide, a baronesa do Triunfo: “Ele falava dela com amor. Nem parecia o Marechal costumeiramente carrancudo”. O narrador, jovem e impetuoso, aprende com o mais velho, símbolo da sabedoria, que lhe dá uma verdadeira aula de história do Brasil. As revelações ao longo dos capítulos, apresentadas de forma linear, são contrastadas com a vida do próprio Alcides, que mostra para o leitor, suas memórias também, revelando a importância dos pequenos seres e não apenas os vultos da história dita oficial. Um subalterno colocado como um narrador e confidente de Deodoro quebra com as expectativas a que estamos acostumados. A mudança de humor de Deodoro é apresentada ao leitor, que tem diante de si, um ser complexo e multifacetado, que não se prende às teias maniqueístas. 

A ficcionalização do real se dá pela transformação do histórico e documental a partir do ficcional e isso ganha corpo através dos riquíssimos diálogos que Tadeu constrói. Essa dramaticidade do gênero teatral que percorre a trama dá o tom maior em sua narrativa. O grande teórico Terry Eagleton, no seu livro Teoria da literatura: uma introdução, já nos disse das contaminações entre o factual e o ficcional, dizendo que há muito de fictício no real e muito de factual na ficção, dando exemplos consideráveis desse imbricamento. Ana Maria Machado nos disse sobre a memória: “A memória não é objetiva, ela inventa, seleciona, elimina, burila, lixa, tira o supérfluo, semeia, cria o que lhe apetece. Pelo menos, a dos artistas. É uma versão, não tem compromisso com os fatos. Como sabiam os gregos, ao fazer com que as musas fossem filhas de Mnemósine, a memória”.

Aguinaldo Tadeu, com sua fina ironia, nos apresenta sua versão da história do Brasil, com todo seu conhecimento e propriedade, revelando os matizes de um país multifacetado, inserido em contrastes que apresentavam uma nação que não seria reconhecida por sua obviedade, mas por sua complexidade, pois nos mostrou um  lado que poderia parecer desconhecido para o leitor comum, mas que era um dado histórico colhido de uma de suas fontes, Laurentino Gomes, que nos presenteou com o outro lado da história. Em matéria para o jornal “El País”, este disse: “Cartas e documentos da época sugerem que, embora tenha ocupado o trono brasileiro por 49 anos, ou seja, quase meio século, o imperador Dom Pedro II tinha uma alma republicana. Seu adversário, o marechal alagoano Deodoro da Fonseca, ao contrário, tinha fortes convicções monarquistas, embora passasse para a história como o fundador oficial da república brasileira.” É isso o que defende o personagem Deodoro neste romance fascinante de Tadeu, que cria um nó na cabeça de Alcides, que procura entender a complexidade dessa questão. Aqui, o marechal manipula suas recordações, organizando-as, recompondo um novo mosaico histórico, que contradiz a história oficial e que deixa seu secretário Alcides boquiaberto.

Além desses elementos, a figura da mulher ganha importância na sua narrativa, daí o título da obra que revela um fato singular na história da Proclamação da República, que não cabe aqui revelarmos e que o leitor precisa descortinar no final da narrativa como fator surpresa. A mulher tem valor crucial na configuração das ações masculinas, como Adelaide, a esposa de Deodoro, Mariana, a princesa Isabel. Isabel é apresentada como pessoa vanguardista na sua obra que até idealizou que as mulheres votassem e fossem votadas. Uma figura feminina avançada para a época. O interessante é como Aguinaldo situa o leitor na época, como se estivéssemos lá, trazendo todo o passado para o frescor do presente. Tudo na sua obra é descrito minuciosamente, não deixando nada na penumbra, nada obscuro. Tadeu ilumina seus caminhos da escrita e sua obra se caracteriza por sua iluminação que nos direciona, paradoxalmente, pelos caminhos ambíguos do real e do ficcional.

A memória dá uma nova versão sobre os fatos, trazendo à tona, uma malha plural de nossa realidade, que se descortina para o leitor através de uma imagem que dimensiona semelhanças e diferenças. José Saramago nos disse sobre a memória: “Para explicar-lhe meu ponto de vista do que chamei então a instabilidade seletiva da memória, isto é, a múltipla diversidade dos agrupamentos possíveis dos seus registros, evoquei o caleidoscópio, esse tubo maravilhoso que as crianças de hoje desconhecem, com seus pedacinhos de vidro colorido e o seu jogo de espelhos, produzindo a cada momento combinações de cores e de formas variáveis até ao infinito”. Quando li a obra de Tadeu, tive a impressão de me adentrar nesse caleidoscópio variado que mostra os vários tons do real em cores límpidas, mas não obscurecidas. Um universo de cores perpassou a minha mente que descobriu em sua obra o método comparativo que só uma aprendizagem pela palavra poderia nos proporcionar.

Um dos métodos comparativos mais perfeitos no seu romance é a relação entre o amor e a guerra que são comparados no seu jogo paradoxal e também pelas analogias, que fazem o encontro singular entre pares que poderiam parecer inconciliáveis, mas que, pela força da metáfora e do lirismo, ganham contornos inexplicáveis ao leitor desatento: “...conquistou mais mulheres pelas cidades que passou do que derrubou inimigos no campo de batalha.” Ao longo do romance, as comparações são recorrentes. Quando Deodoro fala do amor de sua vida, a baronesa do Triunfo, Alcides volta no tempo e fala de como conheceu sua esposa, a moça cor de café, Nuta. Ao contrário do conquistador e experiente Deodoro, Alcides se revela, no início, tímido e inexperiente. Ao longo da narrativa, Alcides ganha destaque e coragem, como entre suas conversas com Deodoro, que ele provoca, para arrancar cada vez mais confissões, mesmo que a raiva e a impetuosidade do marechal o assustem várias vezes durante o enredo. Nas confissões, há um sabor de quero mais, com sua continuidade, cortes e interrupções desde a primeira vez em que tais relatos aconteceram.

Há um jogo entre Deodoro e Alcides, entre o conhecer e o desconhecer numa aprendizagem simbólica de ambos os lados, pois se o velho é visto como sábio, o marechal também aprende com o jovem secretário, que acaba revelando também algumas de suas confissões, num espelho invertido, em que mestre e discípulo se contaminam. Por exemplo, Alcides busca definições de quem era Adelaide, algo indefinido para Deodoro, um ser poético em sua raiz, pois a poeticidade dela e das situações vivenciadas entre eles, faz o marechal ter se apaixonado pela baronesa, mesmo com o desvendamento de seu lado negro e briguento, uma mulher que foi descrita como um “furacão”. Nesse embate entre velhice e juventude também há um conflito de gerações. Além desses contrastes, é recorrente em sua obra a presença e o diálogo com a natureza, como os passeios de Deodoro e Alcides no Campo de Santana, que ficava em frente ao sobrado do marechal. Os pássaros são a metáfora mesmo desse embelezamento da escrita por seu viés lírico. São de grande beleza as passagens comparativas com passarinhos pela visão de Deodoro. A natureza é o lugar mesmo do recolhimento e relaxamento imprescindíveis à sua saúde debilitada pela dispneia.

O secretário revela toda sua ansiedade e contradiz a lentidão do velho marechal que queria contar tudo de forma homeopática para Alcides. Tanto, que as revelações levam três meses para ocorrer, entre Deodoro e seu secretário. Este é sempre curioso e ansioso para que as revelações ocorram logo, causando fúria e brigas entre os dois. As histórias paralelas entre o marechal e o Alcides se cruzam num final inusitado. E as notas explicativas, como a do Chafariz da Carioca, vão clareando o leitor, revelando um poder de iluminação da escrita, como apresentada anteriormente. Apesar dessa luminescência, Tadeu nos mostra os duplos da linguagem, através dos seus maiores contrastes, a diferença na repetição. Outro elemento predominante na sua escrita, é o papel da gestualidade. Como expressões faciais e corporais dão um tom ímpar na sua obra, descortinando para nós os véus da teatralidade. E Deodoro subverte as máscaras sociais, tanto amorosas quanto históricas: “Deodoro gesticulava entusiasmado, se lembrando de seus exageros e arroubos do passado”. E o passado ganha carnalidade através das sensações e continuidade do presente momento. A memória se mostra como grande senhora perspicaz na sua escrita. Adelaide superava as mulheres de sua época pelo corpo e pela alma. Além de bela e exuberante, era cultíssima, dominando conhecimentos em várias áreas. Os relatos não cansam o leitor, pois Tadeu, estrategicamente, mescla vários assuntos, desde os amorosos, aos históricos, e, também, da invenção das coisas e dos objetos, como o telefone, apresentando uma pluralidade de assuntos que não se esgotam.

A relação entre o marechal e o seu secretário não é uma mera história a ser contada, é uma reinvenção do humano a partir de uma aprendizagem em que se unem a memória e a ficção. Além do gênero teatral, há a mistura de outros gêneros como a poesia, Deodoro cita de memória um poema de Olavo Bilac. Também comparece o gênero epistolar, onde o narrador nos envereda pelas cartas de Adelaide a Deodoro. Além dos contrastes já apresentados, Tadeu nos mostra os paroxismos entre as figuras femininas, como entre Adelaide e Mariana: “Mariana é completamente diferente, uma mulher calada, menos carinhosa e menos intensa”. Assim, aqui, o que está em jogo não é apenas a história do Brasil, mas a história pessoal de seres humanos e contrastantes. Por outro lado, temos o outro lado, a história dos seres anônimos como Nuta, que era ambiciosa e só queria saber de joias e roupas caras. E Alcides vai fazer algo irregular para oferecer à mulher amada todos os seus caprichos. Não convém mencionarmos aqui. Cabe ao leitor descobrir ao longo da narrativa.

É interessante observar o lado humano das personagens, sem maniqueísmos simplistas, mostrando seus acertos e erros, suas virtudes e vícios. Deodoro, um homem de guerra e militar, se revela como contraditório, ao chorar quando se relembra de Adelaide e outros fatos do seu passado. As confissões de Deodoro se direcionam como uma via de escape para sua solidão. Ele queria dividir com alguém suas revelações. A vida e a matéria narrada se conjugam. E para dimensionar todos esses contrastes nada melhor do que uma metáfora que percorre todo o livro e que era algo que Deodoro amava, o jogo de xadrez, que serve de mote aquela citação de Machado no início do livro. Deodoro foi figura importante nos dois períodos: império e república. Ele transitou nos dois períodos, se encapsulando no entrelugar da história do Brasil. Deodoro ao longo da narrativa tece altos elogios à Monarquia. O leitor desbravará esses elementos enaltecedores do marechal. Além desse fator histórico na sua narrativa, somos levados por intensos arroubos líricos do narrador, apresentando toda a beleza da poesia na sua escrita.

Alcides, como observador perspicaz e inteligente, vai nos revelando um Deodoro que tinha aversão à política e seus revezes. Alcides evita o anacronismo e nos descortina a história ligada ao seu próprio tempo. Tudo era uma questão de tempo. Como no jogo de xadrez, o secretário revela estratégias para atacar o marechal, conseguindo tirar dele as confissões necessárias para seu projeto ambicioso, mas que será abortado no final da história. Apesar das traições, é a estabilidade do casamento que é enaltecida por Deodoro. Outro elemento importante no livro é o papel da leitura na vida das personagens. Alcides aprendeu o gosto pela leitura já quando trabalhava como copeiro para o imperador Dom Pedro II. E, aqui, a aprendizagem também ocorria entre o mais velho e o jovem Alcides. São várias as referências aos nomes das obras literárias no romance de Tadeu e sua relação com o leitor se dá também pela ótica da aprendizagem. Nós, leitores, aprendizes dos intensos conhecimentos históricos e literários do escritor. Nessa relação simbiótica entre autor e receptor, a sabedoria que aprendemos se conjuga perfeitamente.

Portanto, vários motivos são apresentados ao longo do livro para a queda da Monarquia e um é crucial para a decisão final de Deodoro, que cabe ao leitor se enveredar nesta floresta enigmática e labiríntica de Tadeu. Na coragem do enfrentamento de Alcides com relação a Deodoro, se encontram as mais reveladoras memórias que se abrem para o leitor como um leque de possibilidades. O romance De Aguinaldo é realmente excepcional, conjugando o real e o ficcional a partir da memória, essa mãe de todas as alegrias e dissabores das personagens, que se aproximam ainda mais por um fator que mudou para sempre a história do Brasil como é contada no livro, um grande nome importante e um anônimo, na sua versão ficcional da reconstrução da Monarquia e da República no Brasil, que são repaginadas pela narração e pelos diálogos inventivos desse grande escritor que é Aguinaldo Tadeu.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Deodoro, uma mistura de amor e ódio





Sou apaixonado pelos livros. Não consigo sair de casa sem ter um livro nas mãos. Mas nem sempre foi assim. Não vou dizer aqui, como muitos escritores, que na minha infância a casa era repleta de livros. Seria uma mentira. Sou de família pobre e, na minha infância, quase não tive a feliz companhia de livros, a não ser nas bibliotecas. Mas certa vez, meus pais compraram para mim uma assinatura da revista Nosso Amiguinho e, junto com as revistas, veio também o livro Heróis de verdade, que trazia a biografia ilustrada de grandes personalidades mundiais. Como sempre gostei de ler e não tinha muitas opções, li e reli esse livro várias vezes.

Entre as personalidades biografadas, havia o marechal Deodoro da Fonseca. Não sei o porquê, mas esse personagem de longa barba branca, olhos penetrantes, nariz adunco e cara de bravo me cativou. Fiquei tão interessado por sua história de vida, que passei a desenhar sua fisionomia marcante em cadernos de escola e criar histórias imaginárias com o valente líder militar. Isso faz mais de 30 anos e nunca contei antes essa história para ninguém.

Com o passar dos anos, após muita leitura, conhecimento e uma graduação em História, outro personagem ganhou relevância na minha admiração: Dom Pedro II. Quanto mais leio sobre ele, mais aumenta a admiração e, para mim, o nosso velho imperador é o maior brasileiro de todos os tempos. Com isso, Deodoro se transformou no antagonista, no vilão, no responsável por todos os males causados por essa ré-pública de bananas, proclamada por ele.

Há quase três anos, resolvi escrever o romance A mulher que proclamou a República, que estou lançando agora pela Editora Penalux. Nesse romance, o marechal Deodoro é o personagem principal. É ele que eu coloco num divã para contar suas vitórias, alegrias, derrotas, tristezas, conquistas, casos de amor e decepções. Quando comecei a escrever, claro, Deodoro era o Judas que eu queria malhar. Porém, após retomar a leitura de livros sobre sua vida e durante a construção do romance, esse ódio inicial foi sendo aplacado, e o personagem foi ganhando vida própria nas páginas do meu romance. Ao fim desse livro, o personagem que levo para as pessoas é um Deodoro bastante humano. Nem o líder carismático e heroico da minha infância, nem o demônio encarnado das minhas leituras posteriores, mas o ser humano complexo e contraditório, repleto de acertos e erros, certezas e contradições, Manuel Deodoro da Fonseca.

Estou feliz com a aceitação do livro, que já chegou em todas as regiões do país, e realizado também por ter acertado, tantos anos depois, as minhas contas pessoais com o senhor Deodoro da Fonseca.


segunda-feira, 25 de maio de 2020



Book trailer do meu romance A mulher que proclamou a República, editora Penalux.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

A mulher que proclamou a República





Recebi com muita alegria este presente, meu romance histórico: A mulher que proclamou a República, Editora Penalux.

Infelizmente, devido a situação, não poderei fazer o lançamento por esses dias. Vou fazer depois quando tudo se normalizar.

Quem tiver interesse em adquirir, é só entrar em contato.

Neste romance, o marechal Deodoro da Fonseca conta os segredos de sua vida. Entre eles, está o verdadeiro motivo de ter proclamado a República, mesmo sendo um fervoroso monarquista. Personagem importante na Monarquia e na República, Deodoro rasga seu coração sem meias palavras e nos conta suas vitórias, derrotas, casos de amor e decepções.


terça-feira, 24 de março de 2020

Nossas máscaras de todos os dias



Nesses dias sombrios e alarmantes, com as cidades desertas e tudo fechado: shoppings, cinemas, parques, escolas. Nesses dias de famílias inteiras trancadas em suas casas, com a circulação pelas ruas limitada, temos visto um acessório estranho em muitas pessoas: as máscaras.

Quem não ficou espantado outro dia com aquela entrevista coletiva do presidente com seus ministros usando máscaras? Não foi meio assustadora aquela imagem? Que mundo é esse em que estamos vivendo? 2020 vai passar para a história como o ano das máscaras?

A máscara talvez seja somente o lado mais visível de uma sociedade doente, de um momento complicado que o mundo está vivendo. Mas será que só agora estamos usando máscaras?

Acredito que estamos, há muito tempo, de máscaras. Apenas, nessa crise, elas ficaram visíveis. Antes, estávamos usando máscaras invisíveis, que para mim, são muito mais assustadoras e perigosas que as atuais, que começamos a usar nos últimos dias.

Quem de nós não coloca uma máscara quando vai para o trabalho? Quem de nós não coloca uma máscara quando vai para uma festa de família? Quem de nós não coloca máscara quando conversa com amigos? Quantas máscaras não usamos nas redes sociais? Quem nunca usou uma máscara, que atire a primeira pedra.

Talvez, o uso de máscaras também veio para a nossa reflexão. Quando foi que deixamos de ser nós mesmos, para colocarmos as máscaras que a sociedade exige? Será que depois que passar esse momento difícil, não seria a hora de tiramos todas as máscaras, as visíveis e, principalmente, as invisíveis?

Eu quero um mundo sem máscaras. Que os sorrisos, as tristezas e todos os demais sentimentos, estejam sempre visíveis. Seja você mesmo, com seus sorrisos e tristezas, em qualquer lugar e em qualquer situação.

Sem as máscaras, o ar será mais puro para todos nós...


sexta-feira, 20 de março de 2020

Somos frágeis





Estamos vivendo tempos difíceis no mundo todo. Ligar a TV ou abrir uma página de notícias na internet nesses dias é um verdadeiro show de horrores. Parece que estamos assistindo a um filme de ficção científica. Países com as fronteiras fechadas, as ruas de Roma sem turistas, pessoas trancadas em suas casas e tantas outras medidas que a gente só via em filmes. Mesmo assim, em filmes que eu nem gosto de ver.

Talvez, tudo isso venha para a reflexão. Uma necessária reflexão de nossa condição de seres humanos. Às vezes, a gente precisa lembrar que ainda somos humanos, que a vida não é só ter sucesso no trabalho e ganhar dinheiro. Às vezes, a gente precisa lembrar que a vida não é só viajar para colocar fotos nas redes sociais, que a nossa curta existência nesse planeta não se resume ao fantástico mundo do Instagram, que existe vida fora do celular.

Ainda somos humanos. E somos frágeis. Muitos frágeis. Como dizia o nosso querido arquiteto Oscar Niemeyer: “a vida é só um sopro”.

Talvez, esse momento estranho veio para nos mostrar o quanto somos frágeis. Mais do que isso, o quanto somos dependentes uns dos outros. Nossa vida, meus amigos, não se resume somente ao nosso umbigo, opiniões e interesses mesquinhos. Nós dependemos uns dos outros. Por mais que muitos se achem invencíveis, incríveis e imortais, dependemos sim uns dos outros.

Eu sei que dá vontade de fugir para uma ilha deserta, enquanto tudo isso se resolve do lado de cá. Mas não é assim que funciona, o ser humano vive em sociedade e dependemos uns dos outros. Nesse momento, não há outro caminho, precisamos agir em favor do coletivo e fazer a nossa parte para o bem de todos, mesmo que sejam pequenas ações de compaixão, solidariedade e esperança, como não estocar comida em casa. Ações coletivas podem fazer a diferença e só a solidariedade salvará todos nós.

A humanidade é uma só e somos todos muitos frágeis.