domingo, 1 de setembro de 2019





Você é bem velho, papai!

Estávamos em casa almoçando e o assunto era sobre os tempos passados. Minha filha também estava à mesa e perguntou, espantada:

__ Papai, quando você era criança não tinha celular?

__ Não, meu bem.

__ Mas como você falava com outra pessoa?

Apontei o dedo para o telefone fixo esquecido no aparador.

__ No telefone fixo. Mas só com aqueles que tinham, porque a maioria nem telefone fixo tinham em casa.

Ela botou o dedo na boca, pensou um pouquinho e continuou:

__ Mas como fazia pra falar com a pessoa na rua?

Arregalei os olhos e ri:

__ Uai! Só falava quando a pessoa estava em casa!

__ Não tinha como falar com a pessoa na rua?

__ Não, meu bem. Não tinha celular. O telefone era fixo e ficava só em casa.

__ Você nasceu antes do celular? Nossa! Você é bem velho, papai!

Eu ri, ela riu, todos nós rimos. E o assunto foi para outras paragens.

Mas aquela conversa ficou na minha cabeça. Estou ficando velho. Isso é bom ou ruim? Depende. Acho que pode ser uma oportunidade! Uma proveitosa oportunidade de lembrar as boas coisas da minha infância.

Vamos dar uma passeada no passado? Na minha infância, não havia celular e quase não tinha telefone fixo. Ninguém tinha computador, notebook ou tablet. Não havia WhatsApp, Instagram ou Facebook. Acreditem, as pessoas viviam sem Instagram.

Apesar dessas ausências impensáveis nos tempos de hoje, éramos felizes, muito felizes.

A gente jogava bola na rua, brincava de pique e queimada até de noite, sem medo de bandidos. A família se reunia de noite ao redor do fogão para contar e ouvir estórias. Os vizinhos visitavam uns aos outros sem precisar de aviso. Todo mundo morava em casas e elas tinham quintais com frutas, horta, galinhas, cachorros, gatos, passarinhos.

Éramos pobres e simples, mas havia tempo para a família e os amigos. Não tínhamos muitas coisas, tínhamos muitos amigos. Éramos mais leves e felizes. A gente conversava olhando nos olhos. Não ficávamos no celular o tempo todo e nem tínhamos tanta pressa.

Estou ficando velho. Eu sei. Mas não troco as lembranças inesquecíveis da minha época por nenhum aplicativo de celular.

Do alto da sabedoria de seus seis anos, minha filha tem me ensinado muita coisa. Ainda bem.