Você é bem velho, papai!
Estávamos em
casa almoçando e o assunto era sobre os tempos passados. Minha filha também
estava à mesa e perguntou, espantada:
__ Papai,
quando você era criança não tinha celular?
__ Não, meu
bem.
__ Mas como
você falava com outra pessoa?
Apontei o
dedo para o telefone fixo esquecido no aparador.
__ No
telefone fixo. Mas só com aqueles que tinham, porque a maioria nem telefone
fixo tinham em casa.
Ela botou o
dedo na boca, pensou um pouquinho e continuou:
__ Mas como
fazia pra falar com a pessoa na rua?
Arregalei os
olhos e ri:
__ Uai! Só
falava quando a pessoa estava em casa!
__ Não tinha
como falar com a pessoa na rua?
__ Não, meu
bem. Não tinha celular. O telefone era fixo e ficava só em casa.
__ Você
nasceu antes do celular? Nossa! Você é bem velho, papai!
Eu ri, ela
riu, todos nós rimos. E o assunto foi para outras paragens.
Mas aquela
conversa ficou na minha cabeça. Estou ficando velho. Isso é bom ou ruim?
Depende. Acho que pode ser uma oportunidade! Uma proveitosa oportunidade de
lembrar as boas coisas da minha infância.
Vamos dar
uma passeada no passado? Na minha infância, não havia celular e quase não tinha
telefone fixo. Ninguém tinha computador, notebook ou tablet. Não havia
WhatsApp, Instagram ou Facebook. Acreditem, as pessoas viviam sem Instagram.
Apesar
dessas ausências impensáveis nos tempos de hoje, éramos felizes, muito felizes.
A gente
jogava bola na rua, brincava de pique e queimada até de noite, sem medo de
bandidos. A família se reunia de noite ao redor do fogão para contar e ouvir
estórias. Os vizinhos visitavam uns aos outros sem precisar de aviso. Todo
mundo morava em casas e elas tinham quintais com frutas, horta, galinhas,
cachorros, gatos, passarinhos.
Éramos
pobres e simples, mas havia tempo para a família e os amigos. Não tínhamos
muitas coisas, tínhamos muitos amigos. Éramos mais leves e felizes. A gente
conversava olhando nos olhos. Não ficávamos no celular o tempo todo e nem
tínhamos tanta pressa.
Estou
ficando velho. Eu sei. Mas não troco as lembranças inesquecíveis da minha época
por nenhum aplicativo de celular.
Do alto da
sabedoria de seus seis anos, minha filha tem me ensinado muita coisa. Ainda
bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário