sábado, 1 de outubro de 2011

Quero ser índio!



Sinto-me bastante desconfortável neste mundo capitalista. Não consigo entender o consumismo. Eu não preciso de um carro melhor para viver. Eu não preciso de muitos imóveis ou grandes extensões de terras. Eu não preciso de tanta tecnologia. Eu não preciso de roupa da moda. Sou simples e quero viver e morrer na simplicidade.

Mas o mundo a minha volta pensa diferente. Querem que eu troque meu carro. Querem que eu troque meu apartamento. Querem que eu troque minha televisão, meu telefone, meu computador. Querem que eu troque tudo. A obsolescência está programada para hoje. Tudo precisa ser trocado, mudado e atualizado, com a maior urgência. A caldeira do capitalismo não pode parar de queimar. Estão todos obcecados em ter, poder, parecer – numa dose cada vez maior.

Você precisa ter mais coisas, mais coisas e mais coisas. O telefone de ontem não serve para mais nada, apesar de estar funcionando perfeitamente. Suas roupas são fora da moda, apesar de estarem novas e limpas. Você precisa trocar seu computador, apesar dele lhe atender com eficiência. Mas é assim que tudo funciona. Não tente ser diferente, para não ficar isolado neste mundo tão moderno.

Você precisa estudar mais. Uma graduação não vale mais nada. Uma pós-graduação só é muito pouco. Saber inglês é obrigação. Você precisa estudar mais, estudar sempre, manter-se atualizado 24 horas por dia. Você precisa trabalhar mais. Oito horas por dia é pouco. Fazer o que lhe pedem, é pouco. Você precisa agir diferente. Você precisa ter iniciativa. Você precisa cuidar de sua imagem. Parecer é muito mais importante do que ser. Você precisa parecer brilhante, feliz, bonito e eficiente o tempo todo, 24 horas por dia. Se não for assim, coitado, alguém do outro lado do mundo vai tomar o seu lugar. Isto é a globalização e temos de nos adaptar rapidamente.

“Pagando bem, que mal tem”, é o lema do momento. O mais importante sempre é lucrar o seu, não importando que custo isso possa ter. Sentimentos, cultura, sabedoria, amizades, fraternidade – fazem parte de um passado muito atrasado, que não mais interessa. Importante mesmo é só o agora, de preferência com muito dinheiro, prazer e poder.

Por isso, resolvi: quero ser índio.

Índio trabalha o suficiente para comer. Não precisa acumular. Não precisa vender. Não precisa pagar. Não precisa de dinheiro. Não precisa de relógio. Trabalha para o próprio sustento e o de sua família. No resto do tempo, faz o que gosta de fazer, sem precisar dar satisfação ao chefe, ao vizinho, à sociedade.

Índio não destrói a natureza, pois é seu amigo. Conhece e respeita suas limitações. Tira dela só o que ela pode oferecer. Ele sabe muito bem que a natureza tem o seu tempo, seus segredos e suas maravilhas, reveladas apenas para aqueles que têm paciência e a tratam com o carinho merecido.

Índio sabe pescar, sabe caçar, sabe plantar. Vive plenamente integrado à natureza, que é sua casa, seu alimento e sua vida. Índio não precisa ter coisas, pois tem a natureza, com toda a sua imensidão, beleza e generosidade.

Eu não quero acumular coisas – quero acumular sentimentos.

Por isso, resolvi: vou largar tudo e virar índio.



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