sábado, 25 de outubro de 2014

Desafinados no coro dos contentes - Kimkim



Amigos, deixo aqui um trecho do meu romance 'Desafinados no coro dos contentes', mostrando o artista de rua Kimkim se arrumando para sair de casa.
Espero que gostem! 
              


Dei uma olhada cuidadosa no espelho antes de sair. Cabelos compridos e desgrenhados, olhos penetrantes e expressão de maluco sem solução. Conferi meus adereços: capote azul, botinas velhas, urna vermelha de madeira, onde recebo meu salário, um cajado, para me proteger dos atrevidos e um malote de banco que uso como mochila nas costas, onde levo um livro, algo para comer e uma garrafa d’água. A urna também foi presente do Velho Zuza.

Principalmente, antes de sair, sempre confiro o mais importante que é a grande placa que vai pendurada ao pescoço, onde hoje se lia ao centro com letras maiores: “Dilma corta imposto da cesta básica, mas mantém as mamatas de Brasília”. Abaixo desse texto, sempre vem escrito com letras menores: “ajude o Kimkim com um pouco de seu dindin”. No canto esquerdo superior da placa, uma foto de Dilma com a faixa de presidenta da República. Abaixo os dizeres: “quero ser como ele”, com uma seta apontada para baixo, onde se vê uma foto de Lula também com a faixa de presidente. Abaixo os dizeres: “quero ser como ele”, com uma seta apontada para cima. No canto direito superior da placa, para onde aponta a seta de Lula, uma foto de Dom Pedro II com a roupa imponente de imperador do Brasil. Embaixo dessa foto os dizeres: “nunca serão!”.

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