Todos nós temos nossos rituais. O
ser humano gosta de rituais. Dos mais simples aos mais sofisticados. Dos
rituais em grupos aos individuais. Dos sagrados aos profanos. Todos nós temos
os nossos rituais.
Há
os rituais sagrados, que muitas vezes nem sabemos os motivos, mas participamos,
admiramos e acreditamos. Pode ser um incenso ao redor do altar, os joelhos
flexionados em determinada hora e uma vela que se acende num certo dia. Tudo
são rituais e nós precisamos deles. Os rituais nos fazem bem.
A
maneira de servir o jantar, a maneira de cortar a carne, a maneira de nos
vestirmos. Tudo são rituais. Sem eles não ficamos. Temos orgulho dos nossos
rituais, principalmente, aqueles herdados da família. Isto gera certa nobreza
aos nossos modos. Até mesmo um quê de mistério.
O problema é quando estes rituais passam
da conta, viram manias, superstições, transtornos obsessivos-compulsivos (TOC).
Aí, o que era tão bom torna-se um pesadelo.
__ Natalino, por que está demorando
tanto. Estamos no carro te esperando.
__ Calma, Rose! Calma! Estou me
certificando se as janelas estão todas fechadas.
__ Mas, Natalino, já fizemos isso
juntos...
__ Rose, eu não estava seguro. Estou
só me certificando.
__ Natalino! Natalino! Pare com
estas suas manias...
Para
a própria pessoa, estes pequenos gestos não passam de rituais. Chegam a ser
nobres. Para os demais, são loucuras que precisam de tratamento. Nada justifica
haver uma regra para a posição da escova e da pasta de dentes na pia do
banheiro. Nada justifica lavar as mãos de cinco em cinco minutos. Nada
justifica que um pardal que entra pela janela de sua casa possa significar uma
tragédia para toda a família.
__
Você pode me dar a capa falsa de sua revista?
__
Posso, claro! Mas pra quê você usa isso, Joaquim?
__
Uso como agenda, Fernando.
__
E por que não usa uma agenda de verdade, Joaquim? Afinal, você ganha tantas
agendas bonitas todos os anos...
__
Não gosto de agendas...
__
Por quê?
__
Elas me dão azar...
__
Tudo bem! Tudo bem! Pode levar sua agenda de capa falsa...
Quem
sofre de toque não acredita que está doente. Acha os outros uns chatos
implicantes. Ele é nobre, pois tem seus próprios rituais. Os outros não têm
graça nenhuma. Eles é que são doentes.
__
Neto, tem um cheiro ruim aqui na sala...
__
Não estou sentindo, Plínio. Estou concentrado vendo o jogo.
__
Mas tem sim! E tá cada vez pior...
__
Plínio, cê tá chato que nem minha esposa! Ah, isso deve ser só a minha cueca.
__
Como assim, Neto?
__
Estou usando a mesma cueca para ver os jogos do Flamengo.
__
A mesma?
__ Sim...
__
Desde o início do campeonato?
__
Sim...
__
E não lava?
__
Claro que não, cara! Pra não perder a sorte! Por que você acha que meu time
está tão bem?
__
Estamos na 34ª rodada, Neto! Você é doido, cara?
__
Ah, para! Que doido nada, Plínio! Isto é o meu ritual. Entende, cara? Meu
ritual! E dá sorte, tá!
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