Filho mimado é um ser bastante comum no mundo. Podemos dizer que existe em todas as famílias, como aquela tia velha rabugenta, como o primo que bebe um pouco mais e dá seus vexames ou como o tio contador de casos, que não deixa ninguém mais falar. Cônjuge mimado, como variação do primeiro, também é comum. Existe em todas as casas, como as formiguinhas no açúcar e as lagartixas atrás das cortinas. Porém, nos tempos atuais, vem surgindo uma nova variante deles, que é o cliente mimado. Fruto, com certeza, daquela frase: “o cliente tem sempre razão”. Na condição de funcionário de uma empresa de serviços, muitas vezes, tenho vontade de matar o autor da frase infeliz. Mas na condição de cliente, pago uma caixa de cerveja para o gênio que a criou. A vida é sempre assim: dois lados da mesma moeda. Um dia, somos a pedra. No outro, somos o telhado.
Vejam bem a que ponto chegamos:
__ Minha senhora, o que estou dizendo está no item 5.2 do contrato.
__ Mas eu não li o contrato.
__ Bemmm... ééé... masss... deveria ter lido...
__ Não! Não! E não! O senhor é que deveria ler!
__ Mas eu li! Pra mim...
__ Tá vendo, como o senhor me trata, seu egoísta? Deveria ter lido pra mim, ora!
__ Mas...
__ O senhor é mesmo um insensível!
__ Eu?
__ Sim, o senhor! Um monstro das cavernas!
__ Como assim, um monstro?
__ Eu tive um neném e o senhor nem ligou pra mim... Como pôde ser tão insensível?
__ Mas eu não sabia...
__ Como não sabia? O senhor é meu gerente e tinha obrigação de saber!
E desligou o telefone na cara de seu gerente insensível, que com o aparelho já no gancho, só teve tempo para desabafar, com os punhos cerrados:
__ Pôneis malditos!
Outro dia, vi uma situação parecida:
__ Senhor Alberto, bom dia! Como vai? Estou ligando porque tenho um negócio bom para o senhor!
__ Sei... O senhor ligou para me dar os parabéns pelo meu aniversário...
__ Sim, claro, senhor Alberto... Parabéns, felicidades e saúde para o senhor!
__ O senhor não ligou para me dar os parabéns, seu mentiroso.
__ Liguei sim, senhor Alberto. Só não quis ir direto ao assunto.
__ Mas foi...
__ Como assim?
__ Foi direto me oferecendo seus produtos. O senhor é um insensível, gerente Luís Anselmo! Só quer saber de meu dinheiro e mais nada!
__ Mas...
__ Pensei que fôssemos grandes amigos, mas o senhor só quer cumprir suas metas comigo. Sou apenas um número para o senhor. Um número e mais nada!
E começou a chorar compulsivamente ao telefone.
__ Senhor Alberto, me desculpe...
__ Nem do meu aniversário o senhor se lembra mais, Luís Anselmo. Nem isso. Sem consideração. Gerente insensível! Insensível! Insensível!
E bateu o telefone na cara do estupefato gerente, que ao desligar, ainda teve o bom humor para dizer:
__ Mais assustador que homem feio contando piadas e fazendo caretas!
Um amigo, dono de uma oficina mecânica, me contou outro caso, de uma conversa com um cliente. É uma situação tão complicada para um gerente, que chega a dar dó:
__ O senhor vai trocar de oficina? Mas por quê? Fizemos algo de errado no seu carro?
__ Não, senhor Marcelo, os serviços de sua oficina são sempre muito bons. Não tenho nada a reclamar de seu serviço.
__ Obrigado! Então, meu caro Ed, por que vai trocar?
__ Não me chame mais de Ed. Agora, pra você, sou apenas senhor Edbert.
__ Sim, senhor Ed...Edbert, mas o que aconteceu? Foi nosso preço?
__ Não, senhor Marcelo, seu preço foi sempre muito bom. Eu também não ligo muito pra preço.
__ Então, senhor Edbert, o que fizemos de errado? Diga, para podermos melhorar.
__ Você não liga pra mim, senhor Marcelo.
__ Uai?
__ Não ligou no meu aniversário. Não ligou quando me aposentei. Não ligou quando fui avô. Não ligou nunca!
__ Mas, senhor Edbert, aqui é uma oficina mecânica. Eu preciso fazer um serviço de qualidade com um bom preço...
__ O senhor está muito enganado, senhor Marcelo. Muito enganado. Enquanto o senhor só pensa em dinheiro, o mecânico do meu amigo, liga pra ele. Liga no aniversário. Liga no Natal. Liga quando o time dele ganha. Liga até quando perde... pra dar uma força.
__ Mas...
__ Outro dia mesmo, ele me matou de inveja, pois me mostrou uma garrafa de cachaça que ganhou do gerente da oficina. Cachaça de Minas, senhor Marcelo! De Minas! E eu? O que ganho aqui? Nem uma dose pra molhar a garganta. Só ganho contas pra pagar! Vou embora pra concorrência!
São os novos tempos para o atendimento. Adapte-se rápido ou morra! Antigamente, o balconista de uma loja nem olhava para o cliente. No máximo, respondia as perguntas com monossílabos e aquela cara de apressado. Hoje, tudo o que se fizer para o cliente ainda é pouco. O cliente mimado é um insaciável. Ele não tem limites.
Se você está querendo abrir um negócio, principalmente, de serviços, pense muito bem. O cliente mimado não é fácil, além de muito perigoso. Sua rede de relacionamentos é grande e sua língua não tem tamanho. Preste atenção no atendimento e na equipe que vai montar. Não podem faltar bons psicólogos, babás, avós e mães de filhos únicos. Estas, então, são as melhores para o atendimento dos desejos malucos desses clientes mimados.
Ah, claro, não se esqueça dos padres! Bons padres exorcistas! Você vai precisar deles.
Quem avisa: amigo é!
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